sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Uma questão de Opção

foto: Thais Stauttrat_peq_TRS_9743

Fincar uma casa de alta gastronomia num pequeno município é ousadia inconteste. E fazer deste estabelecimento um sucesso é atestado de competência nos ofícios de cozinhar e servir.

Bento Experidião, lá pelos idos de 2003, foi o chef arrojado que deu a Pinhal o Opção Trattoria Bar, um restaurante que é referência pelo que sai das suas caçarolas. E o empresário fez mais: garimpou entre sua brigada de assistentes uma lavadora de pratos vocacionada para brilhar na arte culinária. Alessandra Lourenço é a jovem chef talentosíssima que hoje comanda a cozinha da casa.

Depois de nove anos bem empreendendo em plagas pinhalenses, Bento está buscando outro triunfo no mundo da comida. Ele decolou de CaféCity para se arvorar no desafio de repetir o êxito do Opção sob os crepúsculos de Sanja.

Terça-feira última, no pós-labuta, bato em casa para um banho reparador e volto pra Pinhal carregando minha mulher e uma vontade grande de retornar ao restaurante, que agora está sob nova direção.

O negócio foi assumido por uma trupe pinhalense de peso: Carlos Brando e João Staut, nomes conceituados na área de consultoria e exportação de máquinas para processamento de café; Fernando Vergueiro, o Dinho,é o sócio que gerencia, recebe a clientela e coordena a equipe de salão. Carismático, no comércio há mais de vinte anos e conhecedor da cidade inteira, ele é o tempero de simpatia circulando entre as mesas. E o quarteto societário é completado pela inventiva e dedicada chef Alessandra.

Meu regresso ao Opção foi cheio de agradáveis surpresas. O aconchego do salão continua o mesmo, mas a luz —que era de boate— ganhou alguns watts para que não se perca nenhum detalhe dos primores visuais que são os pratos. O “puxadinho”, uma anexo à esquerda da porta, que já foi um limbo pra quem não encontrava mesa na área principal, hoje tem uma decente forração de madeira, um pequeno jardim que ornamenta com elegância o ambiente e, vivas!, um civilizado ar refrigerado. A decoração —antes um pouco carregada— foi desprovida do excesso de objetos para ficar mais harmônica com a proposta da casa de ter requinte sem ser empolada, de ser chique sem ser presunçosa.

Vamos ao repasto que marcou a minha noite. O início: carpaccio de salmão. O molho sobre o peixe, que por aí tem notas mais ácidas, fica levemente adocicado pelos toques de mel e erva-doce.

A salada: tutti funghi. Champignons e funghi secchi rapidamente untados na frigideira e servidos com morangos picados e alface americana. O quente-frio da mistura proporciona uma deliciosa e interessante experiência gustativa. Petulante, sugeri à chef que o funghi ficaria mais tutti com shimeji. Na concepção original, respondeu-me ela, a salada também levava shimeji e shitake, ora relegados pela inconstância dos fornecedores.

Os pratos principais: magret de pato com purê de alho-poró e figos. A carne da ave é tenra, servida bem antes da secura em filetes simétricos. A cremosidade cheia de sabor do purê e o quebra-sal dos figos escoltam com muita deferência o peito do pato.

A Josi optou por peixe: robalo à beurre blanc com risoto de manga —outra obra de estética e de sabor da chef Alessandra. Depois de pescar umas porções no prato dela,  o glutão monoglota aqui descobriu pelo Senhor Google que “beurre blanc” é manteiga branca.

Uma das sobremesas mais impactantes da minha insignificante existência, de novo a sensação inusitada pelos choques quente-frio/doce-salgado. Goiabada grelhada, chuviscada de farofa de castanha de caju, servida com sorvete de queijo. Uma baita viagem de arte, de confrontos e de aromas.

Siete Soles, um cabernet sauvignon chileno, foi um companheiro respeitável para a sequência de prazeres da inesquecível refeição.

No imóvel onde hoje é o Opção, funcionou por mais de quarenta anos a Pharmácia Neves. Vai daí que o lugar tem uma inclinação evidente para revigorar. Por décadas, via química medicamentosa, recuperou as patologias do corpo e hoje restabelece com muita eficácia as doenças da alma, oferecendo aos comensais um cardápio em que nenhum item é menos do que definitivo.

Em tempo: a gasosa pra acompanhar o vinho é uma São Lourenço em garrafa plástica. A região tem uma muito melhor, a clássica água Prata que vem nas tradicionais garrafinhas de vidro.

Em tempo 2: o signatário do blog jantou no Opção a convite dos proprietários.

Serviço: aberto de segunda a sábado, das 18:30 até o último cliente.

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Carpaccio de salmão

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Salada tutti funghi

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Magret de pato com purê de alho-poró e figos

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Robalo à beurre blanc com risoto de manga

 

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Goiabada grelhada, chuviscada de farofa de castanha de caju, servida com sorvete de queijo

5 comentários:

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Este escriba sempre com o estômago nas costas, quase com inanição... ô vida dura essa de gourmet, não? rsrsrsrsrs! Abraços guiomarnováticos.

Fernando Lomonaco disse...

Prezado Lauro
Apreciei demais seu comentário sobre este espetacular restaurante, quem diria, do Espírito Santo do Pinhal. Chegue inclusive a postar um comentário que não foi publicado. Penso que não fiz o procedimento correto. Qual teria sido meu erro?
Abraços
Fernando

Roberta Sucupira disse...

Lauro

E.S.Pinhal tem muita coisa boa. "Opção" é uma delas. Bom seria passar da "opção" pra assíduo, constante, sempre, frequente, e aí vai.
Da próxima, experimente "truta com amêndoa que acompanha risoto de limão siciliano." Puro deleite.
Abraço

João Staut disse...

Lauro, excelente matéria.Razão e sensibilidade na dose certa.Agradecemo as referencias elogiosas e as criticas justas e construtivas.Garande abraço e obrigado!

Anônimo disse...

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