quinta-feira, 11 de abril de 2013

Sovacos queimados e caipiras lesados

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Marcos Carioca é outro amigo que nos anos 1990 foi para os EUA em busca do sonho além-Crepúsculos. Como quase todos que emigraram, penou muito, padeceu pelos primeiros [duros, duríssimos] trabalhos, pelo desconhecimento do idioma e na adaptação com a cultura daqueles que não muito tempo atrás eram chamados de ianques. Ianque?! No mundo pós Guerra Fria acho que o termo ficou um tanto démodé. Tão fora de moda como o escrevinhador que assina estas linhas.

Como nem quase todos, Marcolino conseguiu o seu espaço e hoje está dignamente estabelecido com a família em Norwalk, Connecticut, ali nas cercanias de Nova York.

Cervejando dias atrás na sua morada, o amigo me municiou com algumas histórias hilárias sobre brasucas que, como ele, chegaram ao quintal do Tio Sam com poucas verdinhas, nenhum inglês, mas muita coragem.

Não raras vezes os aventureiros tupiniquins baixavam nas emergências dos hospitais com os sovacos em carne viva. Zelosos com o asseio pessoal, o desodorante era item essencial nas compras. Nenhuma boa alma os avisou que nem todo spray serve pra perfumar as axilas. Há alguns que são usados para firmar o cabelo das mulheres vaidosas e que ardem diabolicamente quando encontram pele. Não vou usar aqui a palavra laquê, que também está pra lá de démodé. E dá-lhe rima pobre!

Prometo, se o Marcolino me ajudar com mais munição, voltar aqui com outros deslizes pândegos de emigrantes.

Caipiras lesados, metidos a viajantes, também perpetram trapalhadas aos borbotões. Olha uma delas aí.

Aluguei o carro com o tanque cheio em Las Vegas. Parti pra Los Angeles e, depois de muito rodar por lá, fui dar combustível ao beberrão em Santa Monica, uma simpática localidade litorânea da Califórnia. Já sabendo do sistema self-service dos postos, cheguei pra abastecer com o roteiro mental pronto pra não dar nenhuma mancada.

De pronto a bomba não leu meu cartão de crédito e me mandou ao caixa. Sim, é isso, lá as máquinas mandam em você. Já fiquei meio puto pela escorregada do script, mas, vá lá, fui ao atendente, paguei, falei o número da bomba e pedi pra botar 40 doletas.

Crédito liberado e volto pra bomba. Disparo o gatilho umas dez vezes e nenhuma gota pra saciar a sede do azulão. “Caramba, merda, o que eu tô fazendo de errado?”, resmunguei

Pedi socorro a uns hispanos numa velha caminhonete e um deles, percebendo meu inglês sofrível, foi gentil no idioma ibérico:

—Que pasa, hombre?

Meu espanhol quase perfeito proporcionou isso:

—No pasa! No pasa mi cartón e la buemba no funciona!

Volto ao caixa e finalmente o funcionário sai do guichê, mexe na coisa e me absolve de qualquer responsabilidade. Minha primeira vez como frentista não foi das melhores, mas, acreditem!, a culpa foi do equipamento.

Em tempo: falei de spray aí em cima. Desodorantes e laquês têm suas serventias, mas o spray que ganhou minha adoração nos EUA foi o de manteiga. Prático demais pra untar assadeiras e sanduicheiras e, tirando a gordura, inofensivo para sovacos de forasteiros monoglotas.

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4 comentários:

João disse...

Boa, Lauro! Por lá é tudo na base do spray. Tem spray até com cheiro de pão fresquinho que eles espirram nas padarias pra aguçar mais o apetite dos fregueses.

João disse...

se Marlon Brando soubesse disso, coitada da Maria Schneider....kkk

Marcelo Pirajá Sguassábia disse...

Tenho o sonho de, assim como fez o escriba, pegar meu inglês igualmente sofrível, alugar carro e cortar ao menos alguns daqueles Estados todos. God bless America, and help the macaubicans...

Anônimo disse...

Marcolino manda mais uma história:

Lá nos idos de 1990/91, o brasileiro, zero de inglês, chegava nos EUA pra trabalhar. Depois de algumas semanas de trampo e doletas no bolso, o cidadão saía pra passear em Manhattan.
Anda pra lá e anda pra cá, em determinada hora a bússola mental vai pro saco e o sujeito descobre que está completamente perdido. Como o "the book is on the table" é insuficiente pra conseguir um norte salvador, ele busca na carteira os telefones de emergência, que eram de brasucas que estavam há mais tempo no país.

Aboletado num telefone público, invariavelmente numa esquina, o desnorteado ouve do experiente do outro lado da linha:

"Onde você está?"

As primeiras placas no campo visual parecem indicar a localização e o incauto não titubeia:

"Estou na esquina da ONE WAY com a DO NOT ENTER".