sexta-feira, 27 de junho de 2014

Copas, lembranças II

1994 – EUA

baggio 94

Depois do fiasco do Mundial de 1990 e do jejum desde 1970, a pressão pela conquista era gigantesca. A escolha do treinador Carlos Alberto Parreira foi muito contestada pela torcida e por significativa parte da imprensa.

Estudioso aplicado de esquemas táticos, o técnico abdicou do futebol-arte para montar um time compactado e irritantemente obediente à sua doutrina. A preocupação excessiva em defender fazia a Seleção jogar um jogo feio, burocrático, antítese da cultura brasileira. Os gols saíam de lampejos da dupla Bebeto e Romário.

Na Califórnia, o jogo final contra os italianos retratou à perfeição o desempenho do Brasil naquela Copa: na História, foi o único 0 x 0 em decisões de Mundiais. Dunga, um personagem-símbolo daquela equipe, levantou a taça porque, nas penalidades terminais, Roberto Baggio chutou pra estratosfera. Dizem que a pelota foi achada, semanas depois, no Alasca.

Foi um time que não deixou saudades, mas, goste-se ou não de Parreira, ele foi coerente com seus princípios e suportou as potentes cornetas sem jamais incorrer em destemperos emocionais.

A maior feiura estava reservada para o retorno. Jogadores, comissão técnica e dirigentes abarrotaram o avião com 17 toneladas de eletrônicos e congêneres, sempre irresistíveis pra quem vai aos EUA. No desembarque, a delegação se recusou a permitir que a Receita Federal vistoriasse as bagagens. A CBF chantageou com ameaças de não levar a taça FIFA ao Planalto. Itamar Franco, presidente à época, capitulou e mandou liberar o contrabando.

Na minha memória, o voo da muamba é muito mais nítido que os gols do Romário.

 

1998 – França

zidane 1998

Mário Jorge Lobo Zagallo, ufanista até o último fio de cabelo, estava à frente do selecionado brasuca. Apesar de uma primeira fase vacilante, que findou com uma derrota ante a inexpressiva Noruega, os mata-matas foram jogos empolgantes, com destaques para a goleada sobre o Chile e a emocionante semifinal contra a Holanda, decidida nos penais. Taffarel defendeu duas cobranças dos laranjas.

A disputa pelo título foi com os donos da casa. Sem tradição na maior competição do futebol, os franceses foram menosprezados pelos tetracampeões. O pentacampeonato parecia inevitável.

Horas antes de entrar em campo, o ídolo Ronaldo sofreu uma convulsão, num episódio até hoje não esclarecido totalmente. Examinado e liberado por médicos de uma clínica parisiense, o atacante foi escalado.

Assustados com o ocorrido e divididos com a designação de Ronaldo entre os titulares, os brasileiros chegaram abalados ao Stade de France.

Os anfitriões gastaram a bola e o 3 x 0 acachapante escreveu nas estatísticas, em diferença de gols, o pior resultado da Seleção no livro das Copas.

Convulsão, corrupção, traição ou amarelão? Ainda pipocam por aí muitas conjecturas sobre o que aconteceu em 1998, de fato, com o principal goleador em Mundiais.

Pra este aparvalhado colunista isso é um debate secundário. A verdade é que os deuses do futebol são implacáveis com o salto alto e com quem despreza um gênio da magnitude de Zinedine Zidane.

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