sexta-feira, 19 de setembro de 2014

A retratista intrépida

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A fotógrafa, destemida, é destas que gostam de captar imagens étnicas e/ou de paisagens marcantes em regiões remotas do planeta.

Como o cascalho anda curto para seus rompantes de sebastiânicas salgadices, as expedições ficam restritas aos arredores da província macaúbica.

Uma câmera na mão, um insight, charanga na estrada e lá foi ela atrás de retratos exóticos nas bordas da trilha Sanja-Jardim (Santo Antônio do), onde tem —ou tinha— um acampamento cigano.

A coisa estava um tanto calma, quase silenciosa, enquanto a corajosa zanzava entre as barracas admirando o brilho das panelas areadas. Pela tradição, a luminância há que ser intensa nos utensílios metálicos do povo zíngaro.

Seguindo zumbidos de conversas, ela avistou pouco mais de meia dúzia de crianças e jovens mulheres.

Aproximou-se. O breve “oi” foi seguido de cliques frenéticos com a lente focada nos gitanos. A calmaria acabou ali. Uma cigana irada pisou firme, rodou o vestido vermelho-sangue e avisou-a de forma rude que fotos deles só seriam permitidas com a autorização e a presença do líder do clã. Mais: o chefão havia saído, sem previsão de retorno e, por isso, as imagens colhidas deveriam ser imediatamente deletadas.

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A visão de peixeiras nada nanicas dissipou qualquer intento argumentativo na atrevida Josi —sim, senhores, a cara-metade deste temente cronista é a protagonista da crônica.

Os ânimos arrefeceram à medida que os registros, um a um, iam sendo apagados sob a atenta observação da bravinha de sorriso dourado.

Pedidos de desculpas e uma saída —eu diria fuga—, rapidinha, revelaram um arremedo de receio na arrojada garimpeira de instantâneos não convencionais.

Jururu com a aventura infrutífera, ela logo percebeu que as adjacências ofereciam gente interessante e mais pacífica para o êxito do projeto Regional Geographic.

E assim foi, da ciganada para a tijolada, da gitanaria para as olarias.

Com as belas fotos que ilustram esta publicação, o escriba homenageia a mulher que lhe atura cotidianamente e a sofrida e gentil plebe que, literalmente, amassa o barro para sobreviver.

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Um comentário:

Francisco Azevedo Lomonaco disse...

Grande revelação essa retratista, gostei muito do trabalho, faltou relações publicas. Até hj. sempre uso a expressão "retratista", que tem mais charme.Kiko.