quinta-feira, 4 de junho de 2015

Sabores e tremores

alexandra-daddario

Fim de tarde de sexta-feira e o trabalho me manda à rua para colher negócios. O mundo fora do ambiente do ganha-pão areja, desintoxica da faina rotineira. Contato com o diferente pode ser um dos melhores nutrientes da existência. Contato com gente, também.

Por curiosidade, vício e gula, estou sempre aberto a descobrir novos sabores. Já encarei sarapatel, caldo de sururu, buchada de bode, peixes estranhos e outros bichos inusitados à mesa.

No mencionado crepúsculo da semana do primeiro parágrafo, acho que exagerei na coragem pra explorações gustativas.

Visitando o carismático cliente fabricante de incensos, ele nos diz que a resina —que na verdade é o produto em si— é comestível e que é relativamente comum a sua ingestão por alguns povos do norte da África. Falou isso e colocou à nossa frente uns "petiscos" da coisa.

O colega Guerino, mais educado e menos guloso, mastigou delicadamente uma pedrinha. O lambão aqui logo mandou três das graúdas à boca. O troço é sem gosto e quase impossível de engolir. Envergonhado para cuspir, fiquei mascando aquela goma insossa que gruda implacavelmente no vão dos dentes e, depois de alguns minutos de transpiração e luta, meu estômago recebeu aquela maçaroca triturada. Recebeu, mas não acolheu bem. Terminei a sexta e iniciei o sábado com um desconforto digestivo monumental.

Feliz ficou o Guerino que me disse em mensagem privada —agora caiu o segredo, meu amigo— que o incenso teve um efeito aromático muito agradável na fragrância dos seus flatos.

Ainda padecendo de azia pelo “aperitivo” vespertino, sob coação conjugal, o cinema foi o programa da noite. San Andreas estava em cartaz e a expectativa era de uma chacoalhante diversão. Hollywood sabe fazer melhor e a Califórnia não é merecedora da obra.

O filme não tem nada de entretenimento, não conta nenhuma história e é todo tenso no pior sentido da palavra. A fantasia é exagerada e não cola. Uma das cidades mais lindas do mundo, San Francisco, é inteira destruída enquanto o protagonista —Dwayne Johnson— tenta resolver seu combalido relacionamento conjugal. Ele pilota helicóptero, avião e lancha, mas é incapaz de transmitir qualquer emoção crível. Achei ofensivo e muito deprimente mostrar a Golden Gate destroçada num pseudo exercício de possibilidades geológicas. A maior tragédia no filme é ele próprio. 9,9 na escala "ruinchter".

Rola algo digno de deleite na película? Sim, um assombro de beleza perdido no meio de tanta patacoada: Alexandra Daddario.

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