quinta-feira, 21 de abril de 2016

Pela tia caridosa

Ouço desde a época da Beloca pulando amarelinha que o Congresso não tem sensibilidade para as demandas da população brasileira. Concordo. Esta falta de sintonia entre a atuação parlamentar e os anseios do eleitorado é histórica.

Nada cartesiano, consigo superar minhas limitações e contar que 71% dos deputados, invocando Deus, os netos, a amante, os amigos, Jacutinga e a tia caridosa, votaram pelo impeachment da presidente Dilma. O percentual é idêntico, talvez menor, ao dos descontentes com o governo, segundo várias pesquisas de opinião.

Vai daí que, numericamente sacramentado, é óbvio dizer que na importante votação do dia 17 os legisladores contrariaram a assertiva do primeiro parágrafo e representaram com fidelidade o seu eleitorado. Se na forma jocosa esta representação envergonhou-nos com paroquialismos e futilidades, na intenção o resultado correspondeu ao eco das ruas. Ou não?

Abominável seria se eles sucumbissem ao balcão fisiológico comandado por Lula e votassem em massa no “não”. Se a traição a quem o elege é inerente ao DNA do congressista, no domingo esta malfadada regra capitulou à exceção.

E por qual divindade devemos agradecer por este “realinhamento moral” em bloco? Nossa Senhora da Pressão Popular.

Outra abordagem sobre o impeachment que ferveu na rede. Nas hostes do lulopetismo rola uma demonização do processo na Câmara por este ser comandado pelo bandido maior da República: Eduardo Cunha. Que ele é mesmo um larápio dos grandes, ninguém duvida. Poucas vezes na cena política brasuca surgiu um malfeitor tão sagaz, ganancioso e obstinado.

Não obstante a cana longa que o cara merece, despersonalizemos a coisa e pensemos no institucional. O rito obedecido desde o recebimento do pedido até a apoteose no plenário seguiu todos os trâmites regimentais e, quando contestado pelos partidários da presidente, foi referendado por sucessivas decisões do STF.

Logo, se o curso dos procedimentos foi abençoado pela mais alta corte do país e a sentença saiu pelo “sim” de viva voz de dois terços do colegiado, não há que se falar em vícios na ação.

Um último pitaco. A tortura é um crime contra a humanidade, indefensável. Ao proferir seu voto com vivas a um torturador, Jair Bolsonaro escorregou da diarreia verbal para o enlameado terreno dos que desrespeitam a dignidade humana e atentam contra a Constituição. E o triste é que esta besta vocaliza as aspirações de considerável parcela de brasileiros.

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