quinta-feira, 7 de julho de 2016

Sanja & Blues


A música sempre foi essencial na vida da sanjoanense Nilda Virginia Machado Santos. 

Entre pedaladas nas veredas naturais do torrão Sanja-Prata —outro prazer que ela tinha—, sua devoção aos múltiplos ritmos rendia convites para pilotar o som em festas de amigos.

De hobby na terrinha a coisa virou profissão quando suas performances na picape foram mais aclamadas que as redondas na pizzaria campineira Piola Cambuí. Por dois anos, Nilda foi a DJ que ditou a melodia do lugar. Competência e alma no trabalho a alçaram ao posto de gerente da casa.

Uma paixão, noventa dias de namoro e o casamento. Levada por essa irreprimível batida progressiva, Sampa passou a ser a nova morada dela.

Chamada para tocar num evento internacional no hotel Pullman Ibirapuera, seu desempenho arrebatador fez com que ela fosse contratada como DJ residente. Emprestou seu talento ali por 24 meses. Nilda gravou seu nome na cena paulistana também com diversas fainas pontuais em celebrações e restaurantes. O ápice foi botar deep house para estremecer as passarelas da São Paulo Fashion Week. 

Cansado da insanidade urbana da Pauliceia, o marido quis morar na Mantiqueira das origens da mulher. Com a família ela voltou aos Crepúsculos convicta em concretizar um projeto rascunhado em suas andanças na noite.

Em setembro de 2015, Dona Gertrudes, elegante como nunca, abriu seus domínios para o revolucionário Terapia, uma mistura terapêutica de bar, música e cozinha.

Musicalmente eclético, o Terapia agrega tribos e não-tribos numa liga jovial de informalidade, cores, luzes, drinques e petiscos. Com pouquíssimo tempo de funcionamento, as múltiplas gentes que lá circulam e se divertem revelam o quão consolidado está o bar na sedutora geografia desta plaga macaúbica. Mostram, sobretudo, que o respeito à diversidade é um saudável caminho sem volta para, além de empreender e lucrar, dignificar as pessoas. 

Saúde, Nilda! Evoé, Terapia!

Baixa estatura, alta gastronomia

Este guloso escrevinhador não pode falar do Terapia sem mencionar a recente ousadia no cardápio da casa. O ambiente botequeiro moderno recebeu, três meses atrás, pratos da gastronomia clássica. O novo menu está sob a batuta de um craque: o chef autodidata Alcides “Baixinho” Ortega.

Baixinho, que criou os filhos vendendo produtos veterinários e agrícolas, conheceu o fogão em circunstâncias curiosas. Dono de restaurante nos anos 1990, o Abaporu, ele arriscava nas panelas para não deixar de servir clientes mais notívagos, que queriam comer quando o cozinheiro titular já tinha se recolhido. 

Gostou tanto da brincadeira que, inspirado nos mestres José Hugo Celidônio, Claude Troisgros e Emmanuel Bassoleil, o então aspirante a chef foi buscar aprimoramento em livros, vídeos e prática. Carismático e habilidoso, conquistou admiradores caçarolando em seletas residências do jet set crepuscular.

Noite destas, proseando solto com ele, eu esfaqueava um filé alto da sua frigideira. Encantado fiquei com a suculência rosada da carne. Muito mais do que isso: maravilhado fiquei com o entusiasmo juvenil daquele homem de inacreditáveis 70 anos.

Saúde, Baixinho! Evoé, Terapia!


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