sábado, 22 de outubro de 2016

Habaneras 10 - Overdose de coco

Coco. O coco de tudo que é jeito. Puro, assado, cozido, grelhado, frito, empanado. Pão de coco, refogado de coco, doce de coco. Coco é vitamina, coco é remédio, coco é afrodisíaco. Coco satisfaz, coco dá energia, coco cura.

Mais: óleo de coco, sabão de coco, shampoo de coco, desodorante de coco. Papel higiênico da fibra do coco. Água de coco.

Quem lembra do Bubba falando de camarão para o Forrest Gump? Igual.

Numa tarde em Habana Vieja, um aguaceiro dos céus nos obriga a parar numa cafeteria. Chovia o mundo!

O simples senhor cubano, levando no ombro dezenas de bolas douradas numa fôrma, também se recolheu no recinto.

Puxei prosa para passar o tempo e para matar minha curiosidade sobre o que ele vendia. Os atraentes e brilhantes doces eram balas de coco do tamanho de uma bola de beisebol. 

Apóstolo do coco, o mascate rezou a oração das 1001 utilidades coqueiras do primeiro parágrafo. Ele e o coco: muito amor envolvido!

Preciso dizer que fiquei com vontade de provar a bala gigante? 1 CUC foi ligeiramente desembolsado.

Na primeira mordida, a casca crocante, tipo maçã-do-amor, se mistura com o coco ralado do recheio. Bom!

Na segunda mordida, o doce excessivo já sinaliza que vai ser um suplício comer tudo. Incômodo!

Na terceira mordida, a maçaroca fica impossível de engolir e a mastigação atinge números macrobióticos na tentativa de evitar o ardor na garganta. Tortura!

O tiozinho continua o seu fervoroso discurso pró-coco. A chuva continua torrencial. Minhas mãos meladas, aquela bola com três dentadas olhando feio pra mim e aquele retrogosto enjoativo me causam impulsos incontroláveis de arremessar aquela bala do mal para o Golfo do México. O respeito ao ambulante foi maior que meus instintos assassinos.

Segurei a bala-bola, por eternos minutos, até a estiada. Na rua, logo depois, o cesto de lixo viu este Michael Jordan gordo e branquelo cravar a sua mais vigorosa e doce enterrada.

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