Vinte e oito de fevereiro de 1986. Pela TV, acompanhávamos o presidente Sarney anunciando o Plano Cruzado, que teria o condão de salvar o Brasil da hiperinflação. Naquela mesma data, três jornalistas —Francisco Arten, Gilberto Pirajá e Edelson Decanine— inauguravam um negócio que teria o condão de incluir São João num universo que a cidade desconhecia. Chico Arten lembra que o trio comprou o ponto num rompante de fim de noite —e que só no dia seguinte a ficha caiu. O plano econômico não deu muito certo. Já o plano napolitano…
Adolescente em São João, em meados da década de 1980, tinha um programa sagrado nas noites de sexta: o rodízio de pizzas da Tarantella. O porão na baixada da Rua São João abrigava uma das pizzarias mais frequentadas da história da província. A Tarantella marcou época pela qualidade das redondas, pela massa fina, pelo pioneirismo no rodízio e pelo inusitado subsolo aconchegante onde foi instalada.
A molecada travava lá uma disputa insana: quem comia mais pedaços. Doze foi o máximo que o autor destas linhas conseguiu. Um hoje respeitável pai de família —então meu amigo à época— cravou dezoito pedaços e algumas Coca-Colas numa noitada antológica em 1986. Zé Luis Arten, que esteve na casa desde a abertura —primeiro gerenciando e depois, com a saída dos dois outros parceiros, se associando ao irmão Chico— conta que um cliente de Águas da Prata foi o recordista: em algumas horas, ele devorou incríveis trinta e oito pedaços, quase cinco pizzas inteiras. O fenomenal glutão ainda teve a pachorra de finalizar a epopeia com uma taça colegial.
A Tarantella, nalgum momento, virou apenas memória crepuscular, mas suas pizzas nunca morreram. Por mais de 1/4 de século, Zé Arten e a mulher, Shalimar Brandão, as mantiveram no cardápio do Restaurante da Esportiva. Aliás, é notável o sucesso que eles conquistaram no clube, fosse com as famosas redondas ou com os pratos à la carte.
Numa dessas peças do destino, Zé e Shalimar foram “convidados” a abandonar o Restaurante da Esportiva, deixando uma legião de clientes e sócios tão tristes quanto famintos.
Se há freguesia carente e time que sabe trabalhar, portas sempre se reabrem. Neste maio de 2025, a marca Tarantella renasceu. A Praça da Bandeira é testemunha deste recomeço que congrega uma mistura de pizzas afetivas, belos filés, tradição e gente que arregaça as mangas e faz acontecer —agora com o reforço da dupla Charleston e Fabiana Gomes, que chega somando talento, experiência comercial e entusiasmo à empreitada.
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