quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Réveillon


Centenas de milhares na mais paulista das avenidas. O copo na mão, a roupa branca, o espírito de celebração para receber o novo. Ainda que por uma noite, as dores e as tristezas do ano terrível são esquecidas. O champanhe e a esperança de dias melhores são estimulantes do ânimo. Os fogos espocam, beijos e abraços pipocam...

O primeiro parágrafo é uma impressão real, verdadeira, mas miseravelmente não me deixo contaminar por esse astral festivo. Sou o cinza na efusividade colorida. Sou o pingo amargo na massa doce. Sou, ao mesmo tempo, autor e vítima de uma escolha infeliz.

A metrópole que me fascina em outras épocas, hoje se mostra muito distante do que eu quero. Nada tem de bom estar, numa data tão simbólica, longe de familiares, amigos e próximos, com os quais, uns mais outros menos, eu convivo. 

Insone, refestelado no leito de um excepcional hotel nos Jardins, 1:40 entrando em 2016, a melancolia impera com o incômodo retrogosto de tacos de quinta, guiozas encharcados, sertanejo universitário e Coca quente.

Na GloboNews, Marisa Monte canta que "já não há caminhos pra voltar".

Engulo seco, amaldiçoo meu desolado Réveillon e concordo com ela.

Em tempo: passado o oba-oba natural da virada —sou sempre habitué nestas publicações otimistas e comemorativas—, pela vaidade das letras e pelo travo na boca, não resisti em externar angústias tão humanas.

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