Forjado homem nas alamedas do acolhedor São Lázaro, Luiz, vinte e poucos, enxergou que o seu eldorado estava muito além das macaúbas. Na vitrine midiática do globo por conta dos Jogos Olímpicos, Barcelona foi o destino eleito. O ano era 1992 e ele não tinha a menor idéia de como ganharia a vida na Espanha. Embarcou com algumas dicas, com a cara limpa e com a coragem típica de um bandeirante da Beloca.
Alguns contatos no bolso, Luiz desembarcou em Madri e tomou o rumo de El Masnou, pequena localidade que fica nas cercanias de Barcelona.
Frustrado o encontro com as referências brasucas que poderiam dar-lhe o primeiro norte profissional em solo ibérico, um colóquio casual com um dominicano propiciou ao crepuscular o seu primeiro trabalho.
A faina inaugural foi lavar pratos. E o seu primeiro teto foi com os donos do restaurante.
O primeiro emprego e a primeira morada duraram menos de mês. E a curta relação se rompeu por Luiz levar consigo um hábito dos trópicos que desagradou os patrões. Depois de uma jornada de labuta na cozinha, suado e engordurado, ele não abria mão dos banhos diários. Trabalhando num restaurante, acreditem!, foi dispensado por excesso de higiene.
E, de novo, o dominicano foi a mão amiga. Levou Luiz para também lavar pratos no restaurante do Clube de Tênis, no qual era chef.
Ali, na árdua lida de lavar louças, o macaúbico decidiu que queria ser chef.
Meta traçada, Luiz enfim conseguiu contatar a comunidade brasileira do pedaço. E no convívio com os tapuias granjeou um upgrade na cozinha. Chegou, com a ajuda dos conterrâneos, ao Masia Can Casals para auxiliar na seção de saladas (entradas) e sobremesas. Estava na cidadezinha de Alella.
A entrega à nova função fez o restauranter Pepito ver o talento que laborava na sua brigada.
Expandindo os negócios para a cosmopolita Barcelona, o empresário levou Luiz para inaugurar uma nova casa. Por ano e meio o mantiqueiro-hispano chefiou a área de couverts e sobremesas do El Pirata del Puerto.
Com o firme propósito de vestir o avental de chef, passou a rodar para aprender. Um ano em cada cozinha era o suficiente pra ganhar bagagem. E assim foi dominando as caçarolas da gastronomia clássica espanhola: paellas, caldeiradas e uma variedade colorida e saborosa de pratos de frutos do mar.
A rede de contatos cresceu e, por isso, já gozava de um certo prestígio no backstage da gastronomia de Barça.
No fim dos anos 90, veio o primeiro convite para o ápice: ser o 1º chef do restaurante do Abba Sants, um hotel cinco estrelas. Ainda um tanto inseguro para a empreitada, declinou o chamado para o comando geral e foi efetivado como 2º chef.
Segundo de direito, mas primeiro de fato. Pouco afeito ao trabalho duro sob as coifas, o 1º chef posava de estrela enquanto Luiz carregava o piano.
A incômoda situação não durou mais que dois anos. No início do novo século, a cozinha estrelada do Abba Sants passou a ser, de fato e de direito, chefiada por Luiz Baron Neto. O menino do São Lázaro venceu em plagas estrangeiras.
Há dois anos retornou ao pé da Mantiqueira, onde exerce sua arte sem endereço fixo. Nas casas de quem o contrata, segue o lema de fazer uma cozinha correta na qualidade, na quantidade e no preço.
Em tempo: Gourmet ocasional e glutão full time, o blogueiro ainda não foi apresentado aos pratos do chef Luiz Baron o que, desinteressadamente, ele espera que aconteça após essa postagem.
Sugestão de menu degustação do chef Luiz Baron:
Entrada
Carpaccio de salmão com lâminas de parmesão e vinagrete de tomate fresco (foto acima) ; Creme de abóbora com mousse de bacalhau (foto abaixo); Rigatone com filet mignon suíno.
Principal
Lombo de namorado no vapor sob parmentier de mandioquinha; Carré de cordeiro assado ao molho de vinho e champignons.
Sobremesa
Figos maduros refogados com cravo e canela servidos com sorvete de macaúba.
Mais sobre o chef Luiz Baron
5 comentários:
Desinteressadamente me coloco à disposição para acompanhar eventual convite para degustar os pratos... Sem preferências... À mercê da criatividade do Chef...
Abraço
Evandro
P.S.- um amador... mas amante da culinária...
Já tive o prazer de degustar as delícias preparadas por esse Chef.
Recomendo!
Silvia Ferrante
Isso é a prova da persintencia e um trabalho serio, meus parabens Luiz Baron e muito sucesso que voce merece, um beijo
Simone
Lauro muito obrigado pelo texto.
Somente gostaria de esclarecer que eu nao fui despedido pelo fato de tomar banho cada dia.O ocorreu é que nâo me sentia comodo com a situaçâo e mudei de trabalho.
E que em 16 anos de Espanha nunca me senti descriminado.
Obrigado
Inspiradora saga de sucesso nas lides gastronômicas. Dá para perceber que o chef Luis voltou para a fazenda da Beloca com indisfarçável sotaque ibérico. Parabéns a ele e a você, Lauro, pela deliciosa reportagem. Abraços.
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